Coronavírus — estaríamos vivendo uma histeria coletiva?


Os Coronavírus  são vírus da ordem dos Nidovirales. Eles infectam seres humanos normalmente, então não é nenhuma novidade. Sabe aquele resfriado que você teve, foi ao médico e ele recomendou que ficasse de repouso e se hidratasse? Então, 5 a 10% das vezes em que isso ocorreu você estava infectado por um tipo de Coronavírus. 

Mas então o que muda para esse novo Coronavírus? O que nos assusta, e aí não estamos falando apenas do Coronavírus mas de qualquer microrganismo, é que trata-se de uma nova cepa. Isso é importante porque as pessoas ainda não têm imunidade contra o vírus, então a maioria das pessoas que entrar em contato com ele irá desenvolver sintomas. Isso é diferente do que ocorre com os demais tipos de coronavírus, em que a maioria das pessoas já tem imunidade e não desenvolve doença importante. 

Por isso que, quando foi identificado um novo coronavírus na China em 31/12/2019, começou toda essa preocupação. Esse novo vírus foi identificado como a causa de um grupo de casos de pneumonia em Wuhan, China, e foi chamado 2019-nCoV, ou também COVID-19. 

Uma investigação epidemiológica identificou uma associação inicial com um mercado de frutos do mar onde a maioria dos pacientes havia trabalhado ou visitado. À medida que o número de casos foi crescendo, eles foram sendo identificados em profissionais da saúde ou outros contactantes de pacientes com a infecção. 

O número de casos aumenta diariamente. No início, a maioria deles encontrava-se na província de Hubei, na China, mas hoje sabemos que a maioria dos casos está fora desse país.

O vírus é transmitido via gotículas e via contato. O que isso significa? Que quando entramos em contato com secreções de pessoas infectados, ou quando entramos em contato com objetos ou superfícies contaminadas, a doença pode ser transmitida. 

O período de incubação é de 14 dias após a exposição.Isso significa dizer que, após entrar em contato com o vírus, uma pessoa pode demorar aproximadamente 14 dias para começar a apresentar sintomas. Por isso que a quarentena realizada como medida preventiva trata-se de um período de 14 dias de isolamento. 

A doença do surto atual é caracterizada por febre, tosse, falta de ar, e alterações em exames de imagem, especialmente na tomografia. Uma vez apresentando sintomas, é motivo para preocupação, porque sabemos que quem é sintomático transmite a doença. Quanto ao contrário, há opiniões diversas. Há quem diga que a transmissão por indivíduos assintomático é rara, mas há quem defenda que ela é responsável por ⅔ das transmissões. A verdade é que não se sabe ao certo. Tudo está acontecendo muito rápido, e as pesquisas não conseguem acompanhar a velocidade dos acontecimentos.

É possível transmitir a doença sem apresentar os sintomas? Sim, isso já foi reportado na Alemanha, mas essa não é a regra, e sim exceção. 

Por que a reação das autoridade tem sido tão drástica em relação ao vírus? Não é só mais uma gripe?

Como dito ali em cima, esse vírus é comum sim e costuma causar resfriados. O problema é que, por se tratar de nova cepa, a população ainda não está imunizada. Isso significa que mais gente vai contrair o vírus e adoecer →  mais gente vai transmitir → mais pessoas infectadas. 

Isso é um grande problema especialmente para pacientes idosos, imunossuprimidos ou com condições comórbidas subjacentes, como por exemplo asma ou doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). A chance deles desenvolverem doença grave é muito maior do que a de pessoas saudáveis e jovens. 

E aí, chegamos no cerne da questão, que é a capacidade do sistema de saúde de abarcar todos os doentes. Se não houver assistência de saúde suficiente, a letalidade do vírus é maior, pois quem precisa não terá os cuidados necessários. E é por isso que estão sendo tomadas todas essas medidas de contenção e diminuição da disseminação —  fechamento de escolas, cancelamento de eventos, isolamento de infectados, reagendamento de exames, entre tantos outros.

Observe o gráfico acima. O que acontece, se não tomarmos as medidas de controle da infecção, é que muitas pessoas vão ser infectadas ao mesmo tempo, ultrapassando em muito a capacidade do sistema de saúde. No entanto, se realizarmos medidas de controle, o contágio não vai acabar, mas vai ser espaçado ao longo do tempo, e assim o sistema de saúde conseguirá dar conta do tratamento dos doentes!

Se você se lembrar das suas aulas de matemática, perceberá que talvez até o número de infectados seja o mesmo (basta calcular a área sob a curva). Mas, tendo o sistema de saúde capacidade de abarcar todos —  ou pelo menos a maioria — dos doentes, o número de mortes com certeza cairá. 

Então isso quer dizer que não estamos vivendo uma histeria, e sim um momento de exceção em que foram tomadas medidas lúcidas?

De certa forma, sim. Por outro lado, a forma como as pessoas têm reagido ao problema pode agravá-lo, e muito. 

Os álcoois em gel já não podem mais ser encontrados nas farmácias. Prateleiras de supermercados estão sendo esvaziadas. Máscaras tornaram-se caríssimas e, muitas vezes, estão em falta. É preciso muito cuidado e informação!

Primeiro, o uso de máscaras não é a única medida importante. Elas dão uma falsa sensação de proteção. A doença não te contamina só pela respiração. Se suas mãos entrarem em contato com um objeto contaminado e você colocá-las na boca, nariz ou olhos, pronto, pode se contaminar. Mas, se for o caso de estar convivendo com alguém que está sabidamente infectado pelo vírus, aí é importante usar uma máscara N95.

O principal problema é que quem espalha de fato o vírus pode acabar ficando sem máscaras! É essencial que o portador do vírus use máscaras, porque aí teremos menos microorganismos contaminando o ambiente. Mas isso não será possível se o doente não encontrar a máscara para vender se você estocar suprimentos em sua casa. 

Qual a diferença da máscara cirúrgica para a N95?

Elas diferem quanto à proteção, dependendo da forma de transmissão dos microorganismos. A máscara cirúrgica protege apenas contra gotículas, enquanto a máscara N95 protege tanto contra gotículas quanto contra aerossóis (partículas muito finas). 

Ah, então se o coronavírus é transmitido por gotículas, se eu usar a máscara cirúrgica estarei totalmente protegido. Certo? Errado! Às vezes as gotículas podem se dividir em aerossóis no meio-ambiente, então em tese a única que fornece proteção total é a N95. 

Mas o paciente contaminado DEVE usar a máscara cirúrgica, porque as gotículas que ele expelir serão contidas pela máscara. Não é necessário que ele use a máscara N95. É essencial também lembrar que cada máscara cirúrgica tem validade de aproximadamente 2 horas, então ela deve ser trocada com frequência nos paciente infectados.

Devemos pensar sempre no coletivo. É um problema de saúde pública, que deve ser tratado como tal. Não é necessário desespero, mas sim consciência e empatia. Agir de forma individualista nesse momento é a pior decisão que pode ser tomada. 

Por isso, as seguintes recomendações são importantíssimas: 

  • Higienize suas mãos, seja com álcool em gel, seja com água e sabão, com frequência. 
  • Higienize seus objetos pessoais com frequência. 
  • Não leve as mãos à boca, nariz ou olhos. 
  • Se você apresentar sintomas gripais leves, cancele os seus compromissos e fique em casa. Sabemos que os casos leves não precisam de internação, e que o quadro costuma se resolver sozinho com medidas de hidratação e descanso. 
  • Se você apresentar sintomas mais graves, procure um serviço de saúde, de preferência utilizando uma máscara. 
  • Evite contato com idosos, imunossuprimidos ou pessoas com doenças de base. 
  • Sem desespero! Não é necessário estocar alimentos e suprimentos em casa. Pense que todos precisam ter acesso àquilo que pode prevenir a doença! 
  • Siga as orientações das autoridades competentes. 
  • Se sintomático, não retorne ao trabalho ou escola a menos que você tenha pelo menos 24 horas sem sintomas e sem o uso de medicamentos (ex, anti-térmicos, analgésicos, antitussíenos).

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