Desde o início da pandemia deste novo vírus, várias questões têm surgido. Dentre elas, destaca-se a saúde mental. Será que a quarentena aumentou/vai aumentar o número de suicídios?
O primeiro suicídio relacionado à doença ocorreu na Índia, em fevereiro. Foi um homem de 50 anos que tinha uma infecção viral comum, mas que acreditava ser COVID-19. Por isso, se afastou e isolou de sua família e amigos, e acabou cometendo suicídio alguns dias depois. Depois desse, vários outros casos já foram relatados.
Vários fatores podem predispor à depressão e, em última instância, ao suicídio. A começar pelo medo disseminado, tanto nas mídias quanto nas conversas casuais do dia-a-dia. É normal do ser humano sentir medo, ainda mais frente a uma situação jamais experienciada antes. Some-se a isso o fato de não existir um tratamento preconizado, nem uma vacina, sendo a única forma de prevenção o isolamento social. Além disso, podem surgir estigmas sociais, de vizinhos, amigos ou até mesmo familiares. Por isso, é esperado que ocorram maiores taxas de suicídio durante esse período em que vivemos agora.
Um novo artigo publicado na revista “Brain, Behavior and Immunity” afirma: um dos principais fatores por trás da pandemia de suicídios relacionados à COVID-19 é a incapacidade das pessoas e da sociedade de lidar com a situação. Por isso, é importante saber quais são as pessoas em maior risco, prestar atenção à sua saúde e aos seus limites, e pedir ajuda quando necessário.
Fatores de risco
Isolamento social/ Condições prévias — O isolamento, naturalmente, pode produzir pensamentos depressivos e até mesmo suicidas. No entanto, as pessoas em maior risco são aquelas que já têm uma doença mental prévia, e aqueles idosos que vivem isolados e sozinhos.
Economia — Para algumas pessoas, a questão econômica pode representar um estressor maior do que a pandemia em si. É esperado que uma nova recessão econômica suceda a crise de saúde pública em andamento. Os Estados Unidos, por exemplo, anunciaram uma previsão de um aumento do número de desempregados em 4.6 milhões de pessoas. Já é conhecido há muito tempo que fatores econômicos são fonte muito importante de tentativas e até mesmo suicídios.
Profissionais de saúde — Nem é preciso comentar que o nível de estresse, pressão e ansiedade a que estão submetidos atingiu níveis astronômicos. Além de lidarem com a pressão de se paramentar ao extremo, sem muitas vezes terem possibilidade de comer ou ir ao banheiro, com as conversas com a família, de assistir muitas vezes as pessoas morrerem sozinhas, podem também sofrer com medo de transmitir o vírus para outras pessoas.
Boicote e discriminação sociais — Como se não bastasse, muitas pessoas têm também que enfrentar preconceitos e boicotes de outras pessoas, por terem testado positivo para o vírus ou pela simples suspeita de que possam estar infectados.
Como lidar com o estresse?
Bom, o primeiro passo e mais intuitivo é simplesmente se afastar um pouco das notícias relacionadas ao vírus. O contato constante com elas pode causar muita ansiedade, e é uma medida simples apenas desconectar-se um pouco. Respeite os seus limites!
Em segundo lugar, pode parecer clichê, mas por mais que estejamos fisicamente afastados, é importante manter as relações e conexões, ainda que virtuais. É importante tentar perceber, das conversas com outras pessoas, se alguém ao seu redor pode estar sofrendo e/ou em risco para tentativas de suicídio. Às vezes identificar isso pode ser difícil, mas frases como “eu não aguento mais a vida”, “ninguém me ama”, “viver não vale a pena” podem ser indícios. Lembre-se de que muitos suicidas avisam SIM e dão sinais claros de que poderão tentar algo no futuro. Dizer que isso é querer chamar atenção é não só um MITO como também tremendo desrespeito e falta de empatia.
Se você ou alguém próximo a você estiver se sentindo assim, é essencial procurar ajuda com profissionais da saúde capacitados.
Um comitê internacional liberou um documento sobre abordagens ao momento em que estamos vivendo, do ponto de vista da saúde mental. Segundo eles, deve haver uma pirâmide de intervenções em saúde mental e apoio psicossocial, como segue:
Populações especiais
Idosos —Quanto aos idosos, é importante tomar alguns cuidados. Primeiro, o que todo mundo já está cansado de saber, sobre máscaras e proteção individual. Segundo, é muito importante que seus cuidadores tomem todas as precauções quando forem entrar em contato com eles e/ou objetos ou superfícies que eles utilizem. Além disso, é muito importante fornecer informações a eles, sobre os cuidados que devem ser tomados, atualização das informações disponíveis, e riscos, para que se cuidem. É interessante também ensiná-los como realizar pedidos ou compras online, em supermercados ou farmácias, por exemplo. Por fim, incentive-os a realizar exercícios físicos, ainda que simples, em casa para cultivar a saúde física e mental.
Crianças — Em relação às crianças, algumas recomendações da OMS são:
- Ajude as crianças a encontrar maneiras positivas de expressar sentimentos como medo e tristeza. As crianças se sentem aliviadas se elas conseguem expressar e comunicar os seus sentimentos em um ambiente seguro e acolhedor.
- Mantenha-nas próximas aos seus cuidadores ou família.
- É comum que as crianças fiquem mais melosas ou apegadas durante esse período. Discuta a doença de forma honesta e adequada para a idade. Se a criança tiver preocupações, abordá-las junto com ela pode ajudar a diminuir o medo e a ansiedade.
Pessoas em isolamento social — Para todos que estão em casa, algumas coisas podem ajudar a mitigar o estresse:
- Manter horários e rotinas;
- Vestir-se com outras roupas, ao invés de utilizar apenas pijamas;
- Exercitar-se;
- Realizar exercícios de relaxamento (respiração, meditação, entre outros);
- Leitura de livros ou revistas;
- Tirar um tempo para o lazer (como por exemplo assistir filmes ou séries)
Referências